... ontem fui a um funeral de uma residente que residia na Nursing Home onde trabalho. Primeiro era me completamente inimaginável um dia eu ir a um funeral de um paciente meu; era daquelas coisas que nem se quer pensava, porque de certa forma, parecia ser contra-natura. Não era da minha família; era uma pessoa, um ser humano a quem eu durante determinado período de tempo prestei cuidados de Enfermagem. Mas como todo o ser humano o Enfermeiro também cria relações com os seus pacientes, relações que, por vezes, transcendem a barreira profissional. Mas quando se trabalha numa Nursing Home torna-se complicado ao fim de algum tempo não deixar de considerar todas aquelas pessoas como "família"; isto porque; existem ali pessoas com as quais convivo desde há 8 meses para cá. Claro que eu não deixo de ser a Enfermeira; mas também acaba, de forma natural e inocente por se criar também uma relação de amizade entre nós.
Para mim, é sempre penoso ver um paciente morrer; porque é sempre uma vida que acaba, é sempre um ser humano cheio de experiências, vivências, receios, amores que nos deixa.
Neste caso específico, a Mrs E. era uma pessoa que tinha Esclerose Múltipla desde os seus 30 e poucos anos; com o passar dos anos e devido à patologia a sua condição clínica ia se deteriorando. Mas era extremamente engraçado como ela todos os dias acordava com um sorriso enorme na cara e sempre bem disposta; ou a maioria dos dias bem disposta; como é óbvio nem nós acordamos sempre no nosso melhor. Ela adorava música, então o rádio estava sempre ligado e sempre a tocar os cd's que a sua filha trazia. Tinha um cd em especial que era sobre lullabies do mundo e tinha uma em português "Lá vai alguém" de uma cantora brasileira. Era uma música simplesmente bonita e simples. De modo que sempre que esse cd estava a tocar, cada vez que passava no quarto pedia lhe se podia colocar na portuguese song e a Mrs E. dizia que sim, passando a gostar da música também.
Quando era jovem e antes da doença se manifestar Mrs E. simplesmente o que a mais fazia feliz era andar de moto; mesmo no seu quarto a sua filha P. fazia questão de colocar quadro com fotos com a mãe na moto; com a história da vida de E.; e eu deliciava-me mesmo de cada vez que entrava naquele quarto cheio de vida e de história.
Por essa sua grande paixão, na sua última viagem o caixão chegou ao crematório dentro dum side car adaptado. How cool is that? E como comentei ontem não considerei um funeral, mas acima de tudo uma celebração da vida de E. E devo dizer que, para além de ser um momento triste e a emoção estar presente, foi um momento muito sentido e bonito.
Não sou uma pessoa com muita fé; mas fico contente por haverem pessoas que acreditam na vida após a morte; e a Mrs E. tinha essa crença; por isso sei que ela agora está bem; como ela disse antes de morrer que ia para perto do seu marido e de um falecido amigo da filha.
R.I.P. MRS E.S.
I had no idea love D:
ResponderEliminarhow u holding up?